Depois de entrevistar o escritor Carlos Bezerra, autor do livro "O Recife e suas ruas", e Seu Lula, amigo de muitos anos de Seu Elias, dono da Viação Mirim, agora chegou a vez de entrevistar o busólogo Leonardo Vicente, um dos maiores pesquisadores da história dos transportes em Pernambuco e que há mais de vinte anos estuda a temática. Confira no blog a entrevista onde o pesquisador nos cedeu informações preciosas do seu acervo!
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Pesquisador estuda a história dos elétricos há mais de vinte anos. Foto: autor desconhecido |
1- O que o motivou a pesquisar sobre o tema?
O fato de gostar do tema,pois desde a adolescência que tenho interesse em saber mais sobre o sistema de transportes da RMR.
2- Quais as lembranças que o sr. tem do transporte recifense na sua infância?
Tenho muitas lembranças e a mais marcante é a dos ônibus elétricos, pois desde criança era fascinado por eles,além dos elétricos tenho lembranças do ônibus de primeiro andar (apelidado de Fofão),dos primeiros articulados a rodarem aqui no Recife e dos Torinos Padron que a CTU possuiu,além dos veículos também me lembro das empresas extintas e suas pinturas, como por exemplo, a da Rodoviária Machado, Amapá, Rio Pardo,CTU,Nápoles,Senhor do Bomfim,Empresa Oliveira e Auto Expresso Oliveira dentre outras.
3-Se você pudesse voltar no tempo, e tivesse nas mãos o poder de mudar alguma coisa, o que mudaria no nosso caótico sistema de transportes?
Traria de volta o sistema de ônibus elétricos e os bondes com linhas turísticas.
4-Na sua concepção, o que ocasionou o fim da CTU e dos trólebus do Recife?
A extinção da CTU/Recife foi motivada por causa de prejuízos financeiros que ela causou aos cofres da Prefeitura do Recife,consequência de más gestões que passaram pela estatal. Já os trólebus foram extintos por conta do não cumprimento do contrato de privatização da CTU que previa a renovação total da frota,bem como a manutenção da rede aérea.Além disso os 49 trólebus Marmon Herrington que a CTU possuia e os 10 Caios Amélia que vieram de Ribeirão Preto foram vendidos como sucata,não houve a preocupação em se guardar pelo menos um veículo.
5-Recentemente, houve notícias de que a licitação poderia ser anulada. Você acha que houve retrocesso, na decisão de tentar anular a licitação, ou mesmo se a licitação permanecer quase nada mudaria?
Considero um retrocesso,pois acredito a licitação traria algumas melhorias para o sistema de transporte na RMR em todos os aspectos.Pois do ponto de vista jurídico existiria uma obrigação contratual entre Estado e empresas operadoras.
6-O Brasil não tem a cultura de preservar a sua história e a sua memória, sendo assim, como as futuras gerações poderão conhecer a história do nosso transporte?
Infelizmente, em Pernambuco não existe um museu dedicado aos transportes e que eu conheça não há livros falando do transporte em Pernambuco.Conheço apenas um livro sobre transporte que foi escrito por Waldemar Correia Stiel que possui um capitulo com algumas informações sobre os bondes e trólebus daqui.É por isso que pretendo um dia publicar as informações que coletei em minhas pesquisas num blog.
7-Há dois anos, a Urbana-PE, que representa o Sindicato das empresas de ônibus, divulgou para o grande público uma mostra revelando a evolução do transporte de passageiros, do ano de 2004 até então. Como o sr. avalia a evolução do transporte público nos últimos dez anos?
Na minha opinião, evoluiu pouco, pois houve pouca priorização ao transporte público.Até hoje temos grandes corredores como a Abdias de Carvalho que não possuem uma faixa exclusiva para o transporte público,além disso o transporte ferroviário foi deixado de lado,na minha opinião foi um erro muito grande,pois que no meu entendimento seria uma excelente alternativa para melhorar o trânsito de Recife.
8-Você tem um material muito importante em seu acervo sobre a historiografia do nosso transporte, acumulados ao longo de duas décadas de pesquisa, especialmente sobre a história dos trólebus. Pretende transformar esse material em livro?
Na verdade eu possuo pouco material,porque infelizmente na minha época de adolescente era difícil conseguir uma câmera fotográfica ou de vídeo. Parte do material que tenho foi coletado no Arquivo Público Estadual e o restante foi fruto de pesquisas na internet ou material cedido pelo meu amigo Júnior Martins, através de contatos com alguns entusiastas de trólebus de São Paulo.Já pensei na possibilidade de escrever um livro,mas acredito que vou construir um blog e publicar as informações que consegui coletar.Atualmente ajudo meu amigo Júnior Martins a manter a página sobre os trólebus de Recife no Facebook (https://www.facebook.com/Tr%
9-No final dos anos oitenta, especulava-se pela volta dos bondes ao Recife. Há alguns anos, já houveram boatos que circularam nas redes sociais sobre a possível volta dos ônibus elétricos às ruas da capital pernambucana. Você acha que existe a possibilidade dos trólebus voltarem um dia?
Não, pois a rede aérea foi totalmente desmontada e os atuais governos não demonstram interesse em reativar esse tipo de modal.
10-Allen Morison, Sérgio Martire e Ricardo Aparecido de Morais eram busólogos e, talvez, não sabiam. Eles, como todos sabem, fotografavam pelas ruas do Recife e até pelo mundo afora diversos modelos de ônibus que hoje consideramos verdadeiras relíquias e raridades. O que o sr. tem a dizer sobre eles, que também contribuíram com a história do nosso transporte?
Todos os três tiveram importância,mas eu destaco o trabalho de Allen Morison, pois ele foi o único (que eu saiba) que filmou os elétricos no final da primeira fase do sistema, em 1980. O Sr. Sérgio Martire fotografou os elétricos um pouco antes do sistema trólebus ser desativado em 2001,além disso fez vários registros do modal ferroviário.Já o Ricardo Morais dedicou-se a fotografar ônibus a diesel de diversas empresas ,inclusive de empresas daqui.
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