Para quem faz do busão, uma verdadeira paixão!

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

"Ônibus rally" desbrava as estradas do interior de Pernambuco!


Ônibus expande fronteiras e garante a estudantes do interior o acesso às escolas na Zona Rural. Foto: Iveco/Divulgação
O ônibus do Programa Caminho da Escola, que desbrava BR´s e rodovias do interior pernambucano não é apenas um mero viajante na estrada. Projetado para trafegar por locais de difícil dirigibilidade, que nem sempre são acessados por veículos comuns, como estradas esburacadas e caminhos que não são pavimentados, este micro-ônibus enfrenta diariamente altos e baixos - principalmente em estradas que podem ser consideradas como uma verdadeira "odisséia" pelo caminho -, atravessando zonas rurais e lugares aonde as rodovias ainda são uma novidade.

Enfrentando pistas precárias e toda sorte de intempéries pelo percurso, como estradas esburacadas, por exemplo. O que torna suas viagens mais longas e sua jornada mais emocionante para os mais aventureiros. Diferentemente dos urbanos, este veículo se diferencia pelos percursos desafiantes e dificultosos da Zona da Mata, Agreste e Sertão pernambucanos. Adquiridos pelo governo do estado em parceria com o governo federal em 2011, sua finalidade é transportar estudantes das escolas públicas. Com pneus mais resistentes e outras características que os destacam dos ônibus convencionais, estes veículos são facilmente vistos nas rodovias e BR´s que cortam Pernambuco.

A falta de investimentos na ampliação e melhoria das estradas é minimizada pela estrutura da carroceria de micro-ônibus deste porte, durante a viagem. No entanto, é preciso dar mais atenção às nossas rodovias, que carecem de melhoramentos e algumas vezes acabam se tornando palco de acidentes e tragédias. Com isso, as viagens até os pontos mais remotos e em determinadas regiões do interior pernambucano se tornam mais longas e cansativas. Porém, se alguns centros urbanos, cidadezinhas e povoados sofrem com a precariedade do transporte público, que nesses locais precisa de mais investimentos, é inegável a contribuição desses ônibus que prestam o serviço de transporte à estudantes. 

Como muitos sabem, o ônibus do Programa Caminho da Escola, projetado pela Marcopolo, foi desenvolvido especialmente para vencer obstáculos nos caminhos percorridos, alguns de difícil acesso, onde ônibus e veículos comuns têm dificuldade para trafegar. Os conhecidos “ônibus rally” percorrem, muitas vezes, trajetos longos, encurtando distâncias e possibilitando que estudantes de famílias de origem humilde, tenham acesso às escolas públicas. Para se ter uma ideia, há cidades do interior que possuem poucas escolas, onde os alunos precisavam caminhar trajetos longos para chegar até a unidade de ensino mais próxima. Daí a importância desses veículos para garantir o transporte gratuito de estudantes.

Outra grande aposta é da encarroçadora Mascarello, que aproveitando o boom de vendas do micro-ônibus, passou a produzir unidades do veículo em larga escala em parceria com a fabricante de chassis Iveco, o que representa boas perspectivas de negócio para o segmento. Atendendo à mesma linha de ônibus destinados a atender estudantes da zona rural, a empresa desenvolveu em Minas Gerais o chassi 150S21, que dispõe de motor de 4,5 litros, dispositivo que reduz a poluição e 206 cavalos de potência. Também integram o modelo itens como porta-mochila no teto, cintos de segurança em todas as poltronas e proteção nas janelas.

O ônibus que ilustra esta matéria, por exemplo, é dotado de suspensão elevada (uma exigência padrão para todos os veículos da frota), elevador especial para portadores de mobilidade reduzida, além de características que visam facilitar a trafegabilidade em áreas rurais, como ter um motor mais potente, específico para circular nesses tipos de locais. Entre os anos de 2011 e 2013, foram adquiridos, com recursos do governo federal, aproximadamente 17 mil ônibus, beneficiando cerca de 1,9 milhão de alunos em todo o país. Segundo o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), o objetivo da frota de veículos escolares é garantir segurança e qualidade ao transporte dos estudantes e contribuir para a redução da evasão escolar.

sábado, 22 de outubro de 2016

Conhecendo a história do nome da empresa São Judas Tadeu


A principal empresa de ônibus da cidade do Cabo de Santo Agostinho, município a 40 quilômetros da capital pernambucana, tem uma característica peculiar muito interessante envolvendo a história do seu nome. É que o seu fundador, o empresário José Faustino dos Santos, católico fervoroso e devoto de São Judas Tadeu, ao fundar a empresa na década de 1950, decidiu batizá-la com o nome do santo da Igreja Católica Apóstolica Romana. Por volta dos anos cinquenta, quando as poucas estradas existentes ainda eram precárias, o empresário abriu caminhos e, com apenas dois ônibus e em parceria com um sócio, Faustino dos Santos criou a primeira linha de ônibus ligando o município cabense à cidade do Recife.

Faustino dos Santos, o empresário que fez sua vida no Cabo de Santo Agostinho
Faustino dos Santos foi pioneiro ao implantar a primeira linha de ônibus ligando o Cabo de Santo Agostinho ao Recife. Com desprendimento, o empresário já ofereceu transporte gratuito para estudantes de baixa renda que se dirigiam diariamente ao Recife para estudar. Participou ativamente da luta pelos interesses do Sindicato das Empresas de ônibus (Urbana-PE), apoiando e defendendo a categoria, onde também exerceu durante muitos anos o cargo de presidente do sindicato. Segundo um site especializado na documentação da história dos transportes: 

"A São Judas Tadeu, que também ficou conhecida como 'Faustino dos Santos e Cia', foi uma empresa que sempre se caracterizou por manter um forte vínculo com a população local. Fundada na década de 50, a empresa recebeu o nome do santo São Judas Tadeu, famoso ícone da Igreja Católica Apostólica Romana, do qual seu fundador era devoto. Até mesmo as cores da pintura dos ônibus eram as mesmas das roupas de São Judas: vermelho e verde sobre branco. (...) O empreendedor José Faustino sempre trabalhou para oferecer um transporte melhor à população cabense e região. Tanto trabalho e dedicação trouxeram resultado. Ninguém podia imaginar que de uma frota de apenas dois ônibus uma empresa de transportes chegaria à ascensão."

Garagem da SJT no bairro de Santo Inácio, Cabo de Santo Agostinho/PE
Zeca Faustino, como também era conhecido, foi admirado por amigos e empresários. Um homem que sempre buscou conciliar suas atividades empresariais com a solidariedade e responsabilidade social, buscando apoiar as lutas sociais do povo cabense, assim como os filhos o definem. Sua trajetória de lutas e conquistas revela o caráter do homem empreendedor, que buscou sempre atender aos que mais precisam com serviços de qualidade. Seu modo de ser o tornou uma figura querida e respeitada. Preservava sempre a forma simples, sincera e humana de comunicar-se com seus semelhantes. José Faustino dos Santos nos deixou em 05 de julho de 1989, deixando um rico legado de aprendizado e um extenso caminho de frutos e conquistas a ser seguido pelos filhos.

Em 2010, o governo de Pernambuco inaugurou o Terminal Integrado do Cabo, em homenagem a Faustino dos santos
Sem dúvida, o legado de José Faustino dos Santos é exemplo para muita gente e o empresário até já virou referência para outros empresários de transporte. Em 2010, o governo de Pernambuco inaugurou, no centro do Cabo, o Terminal Integrado José Faustino dos Santos, uma homenagem ao fundador da principal empresa de ônibus do município. A ocasião contou com a presença da família Faustino dos Santos e também do então governador do estado na época, Eduardo Campos. Muitos cabenses fizeram questão de comparecer ao evento para prestigiar a solenidade.

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Ônibus a gás é testado no Recife e a novidade é aprovada pelos usuários

Foto Scania/Divulgação
Com a proposta de trazer mais qualidade no transporte de passageiros e de emitir menos gases poluentes, o ônibus a gás está sendo testado no Recife nesses últimos dias e a aposta é que esse tipo de veículo possa finalmente ser adotado na capital pernambucana. Muitos usuários aprovaram o serviço, que é mais silencioso se comparado com os ônibus a diesel e que, segundo o fabricante, tem capacidade para rodar por 2 dias sem precisar ser abastecido, o que equivale a 450 quilômetros. Considerado como a solução mais sustentável para a mobilidade urbana, o veículo já foi testado em outras cidades como São Paulo, Paraná e Santa Catarina e apresentou bons resultados.

Testado pela Scania, o ônibus entrou em operação na última quarta-feira (19/10) e surpreendeu pela tecnologia e inovação, dispondo de motor traseiro, piso baixo, ar condicionado e câmbio automático. O veículo de modelo Padron possui 15 metros de comprimento e tem capacidade para transportar até 130 passageiros. O teste é fruto de uma parceria entre o Grande Recife Consórcio de Transportes, a Scania, a Companhia Pernambucana de Gás (Copergás) e a empresa Metropolitana. A ideia é trazer mais veículos como este e implantá-lo em todas as linhas do sistema caso o serviço compense os custos operacionais.

A linha escolhida para o teste do ônibus a gás é a Circular (Prefeitura/Cabugá), que percorre diariamente um percurso de aproximadamente dez quilômetros, em cerca de cinquenta minutos por viagem. Inicialmente, não houve qualquer custo para o sistema e o passageiro, já que a operação foi viabilizada em caráter de testes juntamente com quatro órgãos responsáveis pela adesão do veículo. Entre as novidades, o ônibus desenvolvido pela Marcopolo e pela Scania também traz a vantagem de entradas USB para carregar celular. Trazendo bom desempenho, o abastecimento de combustível é regulado por um software e realizado em apenas seis minutos, o que garante maior eficiência.

Primeiro ônibus a gás do Brasil foi testado no Recife na década de 1980 e foi apelidado de "Frevão".
Embora seja um grande precursor tecnológico, moderno e sustentável, o ônibus a gás já foi testado no Recife no passado. Na década de 1980, o conhecido "Frevão" desfilou pelas ruas da capital pernambucana e trazia uma boa alternativa em termos de viabilidade econômica e sustentável. No entanto, por pressão de entidades que representavam o comércio e a indústria de petróleo, a ideia logo foi abortada. Levando em conta que, na época, era mais burocrático trazer esse tipo de ônibus para circular. Hoje em dia, a realidade do sistema e do meio ambiente sugerem a adesão de veículos mais sustentáveis, que além de reduzir a emissão de poluentes, contribuem também para a maior qualidade de vida dos usuários do transporte público.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Caxangá consolida-se como empresa com 100% de atuação na zona Norte do Recife



Com a segunda maior frota de ônibus entre as empresas de transporte de passageiros da Região Metropolitana do Recife - cerca de 347 veículos - a Rodoviária Caxangá consolidou sua experiência no ramo de transporte com 100% de operação de suas linhas na zona norte do Recife e também parte de suas linhas em alguns bairros do município de Olinda. São 54 linhas distribuídas em 340 ônibus, servindo a 12 bairros da área norte da cidade, transportando cerca de 5,7 milhões de passageiros por mês. Na busca pelo melhor atendimento ao cliente, a empresa investe em treinamentos e capacitações, para sua equipe e seus colaboradores e a idade média da frota em operação é de 3,58 anos.

Em 2010, a empresa renovou sua frota com diversos ônibus da marca Torino
A Caxangá surgiu em 1992, mas seu processo de expansão se deu a partir dos anos 2000, com a aquisição da empresa Tamará. Em 2005, a Caxangá inaugura sua ampla sede no bairro de Peixinhos, em Olinda, onde concentra suas atividades e segue seu ritmo de crescimento. Em 2010, a empresa renova sua frota com ônibus de modelo Torino, uma das aquisições que entrou para a história da empresa por reafirmar seu compromisso na busca pela qualidade do serviço de transporte, elevando a companhia ao prêmio ISO 9001, um reconhecimento aos serviços prestados à população.

A empresa investe na busca pela qualidade do serviço de transporte
Ainda em 2010, a empresa da família Chaves optou por separar-se da Metropolitana, através de um acordo formalizado entre os sócios. Em 2013, um fato triste ganha as manchetes dos jornais: um ônibus da Caxangá, de número de ordem 001, é tomado por um incêndio criminoso na rua do Príncipe, nas proximidades da universidade Católica, Centro do Recife, causado por manifestantes que integravam partidos políticos. Na época, a empresa teve um prejuízo de cerca de trezentos mil reais e a foto do ônibus incediado viralizou nas redes sociais, sendo compartilhada por centenas de internautas.

Um ano depois, a empresa retoma o fôlego e dá início a mais uma etapa do seu processo de expansão, com a aquisição de 80% das linhas de ônibus da empresa São Paulo, desativada por não se enquadrar nas regras da licitação do transporte público, que passou a vigorar em 2014. Com 17 das 19 linhas que são incorporadas pela Caxangá, a empresa assume o desafio de dar conta da grande demanda de passageiros e, para isso, adquire diversos ônibus usados da empresa desativada em caráter emergencial. Sua renovação de frota mais recente foi de ônibus trucados, da marca Comil, para atender às linhas do Terminal Integrado de Xambá e ônibus de modelo Torino 2014, que dispõem de nova pintura e design robusto e diferenciado.

Foto do ônibus da Caxangá incendiado em 2013 viralizou nas redes sociais
Frente a novos desafios, a empresa consolida-se com 100% de suas linhas concentradas nos bairros da zona norte do Recife e também em alguns bairros da cidade de Olinda. Aos poucos, a Caxangá tem atingido a satisfação plena de seus usuários e colaboradores, traçando metas e buscando resultados, com sua presença cada vez mais fortalecida nos bairros e comunidades em que atende, criando um forte vínculo com a população. A Caxangá, detentora de uma das maiores frotas entre as empresas de ônibus do Grande Recife, é responsável por transportar cerca de 12% dos passageiros usuários do sistema.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Em dois anos de operação no Recife, BRT supera expectativas, mas ainda precisa avançar mais

BRT é conhecido pela economia de combustível e por transportar uma quantidade maior de pessoas. Foto: Scania/Divulgação
Criado com a proposta de melhorar a qualidade do transporte público e conhecido como um dos legados da Copa do Mundo de 2014, o bus rapid transit (BRT), que na tradução significa "transporte rápido por ônibus", chegou ao Recife com o objetivo de dar maior rapidez às viagens e oferecer mais conforto aos usuários, reduzindo o tempo de espera dos passageiros e transportando uma quantidade maior de pessoas. Quando chegou aqui, a então novidade - que já operava em algumas capitais brasileiras como São Paulo e Brasília - foi bem recebida pelos pernambucanos e, principalmente, pelos busólogos.

O veículo articulado que circula nos corredores de ônibus, a conhecida faixa azul, é dotado de ar condicionado, além de possuir a vantagem de embarque/desembarque em plataformas especiais, conhecidas como estações de BRT, dispensando o uso do cobrador e permitindo que o passageiro pague a tarifa antecipadamente, evitando atrasos. De fato, o ônibus mais fotografado pelos fãs de ônibus representou um avanço no transporte público e foi também um dos ônibus mais clicados do site Ônibus Brasil, segundo um levantamento divulgado pelo busólogo Paulo Rafael Viana. Para quem não conhece, o Ônibus Brasil é uma página da internet especializada na publicação de fotos de ônibus.

Foto: Portal da Copa
Aguardado com muita expectativa pelos busólogos, que ansiosos esperavam para fazer o primeiro clique do busão no ano da Copa, o ônibus superou as expectativas dos usuários, mas ainda precisa avançar mais. Os investimentos que o governo do estado fez em mobilidade urbana em 2014 foram bem vindos, mas não em quantidade suficiente para atingir a satisfação plena dos passageiros. Muitas estações de BRT estão com obras pela metade e a faixa azul da BR-101 Norte, prevista para interligar o Terminal da Macaxeira, na Zona Norte do Recife, à cidade de Igarassu, na Região Metropolitana, num percurso de aproximadamente trinta quilômetros, ainda permanece em andamento e sem previsão de conclusão.

BRT de Recife figurou no site Ônibus Brasil como uma das fotos mais visualizadas em 2014, ganhando o status de "Foto da Hora".
Além disso, existem os projetos que não saíram do papel. O corredor de BRT que seria implantado nos sete quilômetros do canteiro central da avenida Mascarenhas de Morais, Zona Sul do Recife, sequer foi implementado, talvez pela demanda de passageiros não ser suficiente para cobrir os custos da operação, levando em conta que a linha Sul do Metrô também opera na Região, porém poderia reduzir a quantidade de ônibus que circulam diariamente pela artéria urbana e substituir algumas linhas que trafegam no local. Durante um longo período, muitos BRT`s ficaram parados e sem uso na garagem da empresa MobiBrasil, em São Lourenço da Mata, cidade da Região Metropolitana do Recife. Os veículos foram remanejados para outras linhas em caráter provisório, para que a ação do tempo não cause desgaste ou degradação nos ônibus.

BRT é visto como uma alternativa de transporte viável e econômica
Sem dúvida, podemos afirmar que o BRT sempre fará a diferença no transporte público de passageiros, seja por se destacar em meio ao trânsito, com sua imponência e robustez, seja por oferecer mais conforto e comodidade, o busão sempre mostra sua importância. Além de emitir menos gases poluentes, o veículo ganha velocidade em poucos segundos, transporta uma maior quantidade de passageiros e são mais rápidos do que os ônibus convencionais. O veículo também é reconhecido pela economia de combustível e pelo baixo índice de manutenção. Hoje, em pouco mais de dois anos de operação, os veículos ultrapassaram as expectativas dos pernambucanos, sendo aprovado pelos usuários. Estudos de viabilidade técnica poderiam ser realizados para ampliar a área de atuação do BRT.

O BRT começou a circular no Recife em maio de 2014. Na época, sua proposta inicial era atender aos torcedores que iriam se dirigir para a Arena Pernambuco para acompanhar as partidas de futebol da Copa do Mundo. A empresa vencedora do contrato de licitação, para obter o direito de explorar o serviço, a MobiBrasil, investiu cerca de R$ 95 milhões para a aquisição de cem veículos, atualmente distribuídos em 15 linhas. O Consórcio Conorte, formado pelas empresas Itamaracá, Rodotur e Cidade Alta também investiu na compra de veículos desse porte, para atender aos usuários da Zona Norte da Região Metropolitana.

domingo, 21 de agosto de 2016

Entrevista com o pesquisador da história dos transportes, Leonardo Vicente

Depois de entrevistar o escritor Carlos Bezerra, autor do livro "O Recife e suas ruas", e Seu Lula, amigo de muitos anos de Seu Elias, dono da Viação Mirim, agora chegou a vez de entrevistar o busólogo Leonardo Vicente, um dos maiores pesquisadores da história dos transportes em Pernambuco e que há mais de vinte anos estuda a temática. Confira no blog a entrevista onde o pesquisador nos cedeu informações preciosas do seu acervo!

Pesquisador estuda a história dos elétricos há mais de vinte anos. Foto: autor desconhecido
1- O que o motivou a pesquisar sobre o tema?

O fato de gostar do tema,pois desde a adolescência que tenho interesse em saber mais sobre o sistema de transportes da RMR.

2- Quais as lembranças que o sr. tem do transporte recifense na sua infância?

Tenho muitas lembranças e a mais marcante é a dos ônibus elétricos, pois desde criança era fascinado por eles,além dos elétricos tenho lembranças do ônibus de primeiro andar (apelidado de Fofão),dos primeiros articulados a rodarem aqui no Recife e dos Torinos Padron que a CTU possuiu,além dos veículos também me lembro das empresas extintas e suas pinturas, como por exemplo, a da Rodoviária Machado, Amapá, Rio Pardo,CTU,Nápoles,Senhor do Bomfim,Empresa Oliveira e Auto Expresso Oliveira dentre outras.

3-Se você pudesse voltar no tempo, e tivesse nas mãos o poder de mudar alguma coisa, o que mudaria no nosso caótico sistema de transportes?

Traria de volta o sistema de ônibus elétricos e os bondes com linhas turísticas.

4-Na sua concepção, o que ocasionou o fim da CTU e dos trólebus do Recife?

A extinção da CTU/Recife foi motivada por causa de prejuízos financeiros que ela causou aos cofres da Prefeitura do Recife,consequência de más gestões que passaram pela estatal. Já os trólebus foram extintos por conta do não cumprimento do contrato de privatização da CTU que previa a renovação total da frota,bem como a manutenção da rede aérea.Além disso os 49 trólebus Marmon Herrington que a CTU possuia e os 10 Caios Amélia que vieram de Ribeirão Preto foram vendidos como sucata,não houve a preocupação em se guardar pelo menos um veículo.

5-Recentemente, houve notícias de que a licitação poderia ser anulada. Você acha que houve retrocesso, na decisão de tentar anular a licitação, ou mesmo se a licitação permanecer quase nada mudaria?

Considero um retrocesso,pois acredito a licitação traria algumas melhorias para o sistema de transporte na RMR em todos os aspectos.Pois do ponto de vista jurídico existiria uma obrigação contratual entre Estado e empresas operadoras.

6-O Brasil não tem a cultura de preservar a sua história e a sua memória, sendo assim, como as futuras gerações poderão conhecer a história do nosso transporte?

Infelizmente, em Pernambuco não existe um museu dedicado aos transportes e que eu conheça não há livros falando do transporte em Pernambuco.Conheço apenas um livro sobre transporte que foi escrito por Waldemar Correia Stiel que possui um capitulo com algumas informações sobre os bondes e trólebus daqui.É por isso que pretendo um dia publicar as informações que coletei em minhas pesquisas num blog.

7-Há dois anos, a Urbana-PE, que representa o Sindicato das empresas de ônibus, divulgou para o grande público uma mostra revelando a evolução do transporte de passageiros, do ano de 2004 até então. Como o sr. avalia a evolução do transporte público nos últimos dez anos?

Na minha opinião, evoluiu pouco, pois houve pouca priorização ao transporte público.Até hoje temos grandes corredores como a Abdias de Carvalho que não possuem uma faixa exclusiva para o transporte público,além disso o transporte ferroviário foi deixado de lado,na minha opinião foi um erro muito grande,pois que no meu entendimento seria uma excelente alternativa para melhorar o trânsito de Recife.

8-Você tem um material muito importante em seu acervo sobre a historiografia do nosso transporte, acumulados ao longo de duas décadas de pesquisa, especialmente sobre a história dos trólebus. Pretende transformar esse material em livro?

Na verdade eu possuo pouco material,porque infelizmente na minha época de adolescente era difícil conseguir uma câmera fotográfica ou de vídeo. Parte do material que tenho foi coletado no Arquivo Público Estadual e o restante foi fruto de pesquisas na internet ou material cedido pelo meu amigo Júnior Martins, através de contatos com alguns entusiastas de trólebus de São Paulo.Já pensei na possibilidade de escrever um livro,mas acredito que vou construir um blog e publicar as informações que consegui coletar.Atualmente ajudo meu amigo Júnior Martins a manter a página sobre os trólebus de Recife no Facebook (https://www.facebook.com/Tr%C3%B3lebus-%C3%B4nibus-el%C3%A9tricos-do-Recife-151930651543230/)

9-No final dos anos oitenta, especulava-se pela volta dos bondes ao Recife. Há alguns anos, já houveram boatos que circularam nas redes sociais sobre a possível volta dos ônibus elétricos às ruas da capital pernambucana. Você acha que existe a possibilidade dos trólebus voltarem um dia?

Não, pois a rede aérea foi totalmente desmontada e os atuais governos não demonstram interesse em reativar esse tipo de modal.

10-Allen Morison, Sérgio Martire e Ricardo Aparecido de Morais eram busólogos e, talvez, não sabiam. Eles, como todos sabem, fotografavam pelas ruas do Recife e até pelo mundo afora diversos modelos de ônibus que hoje consideramos verdadeiras relíquias e raridades. O que o sr. tem a dizer sobre eles, que também contribuíram com a história do nosso transporte?

Todos os três tiveram importância,mas eu destaco o trabalho de Allen Morison, pois ele foi o único (que eu saiba) que filmou os elétricos no final da primeira fase do sistema, em 1980. O Sr. Sérgio Martire fotografou os elétricos um pouco antes do sistema trólebus ser desativado em 2001,além disso fez vários registros do modal ferroviário.Já o Ricardo Morais   dedicou-se a fotografar ônibus a diesel de diversas empresas ,inclusive de empresas daqui.

sábado, 13 de agosto de 2016

Serviço opcional de ônibus ganha cada dia mais adeptos no Recife e é modelo para outras cidades

Recentemente, Vera Cruz implantou o sistema para atender à Zona Sul do Recife. Foto: NE10
Considerado um serviço de transporte diferenciado e direcionado também à classe média, por dispor de ônibus que contam com ar condicionado, poltronas reclináveis e são mais confortáveis, os ônibus do serviço opcional de transporte vêm ganhando, a cada dia, mais adeptos e conquistando a preferência dos usuários. O serviço - que inclusive estimula quem tem automóvel a deixar o veículo em casa - é oferecido por algumas empresas de ônibus do Recife, como Borborema, Vera Cruz e Transcol, e tem como proposta trazer mais conforto e comodidade aos passageiros.

Quem utiliza o transporte diariamente aprovou o serviço e a sensação dentro dos coletivos de transporte especial é de estar viajando num ônibus com destino ao interior, pelas características dos veículos opcionais se assemelharem com os de transporte intermunicipal. Já para os empresários, por verem o retorno financeiro que o serviço traz - mantido em parceria com o governo do estado - decidem apostar cada dia mais nessa modalidade de transporte e manter o sistema opcional, que demanda uma tarifa diferenciada, mas que compensa e vale a pena. Afinal, como todos sabem, manter o transporte opcional é mais caro do que manter o convencional.

Empresa Transcol opera linha em parceria com a Borborema. Trata-se da 518 - Apipucos/Shopping RioMar. Foto: blog do Jailson Mobilidade
A primeira empresa a apostar nesse tipo de serviço no Recife, de que se tem registro, foi a Imperial Borborema, do empresário Arthur Swchambach, em 1981. Na época, os micro-ônibus serviam a uma linha opcional denominada "Circular", atendendo ao Shopping Recife e aos bairros vizinhos no entorno do empreendimento. A então novidade era uma parceria do Shopping Center com a empresa de ônibus e ganhou até um comercial na tevê com o objetivo de divulgar este serviço à população em plena década de 80! Hoje, decorridos trinta anos, a modalidade continua fazendo sucesso e ganhando cada dia mais adeptos.

Empresa de Swchambach foi pioneira ao apostar no transporte opcional no início do anos 80. Foto: busdowanderblit.wordpress.com
Como se sabe, a Borborema, grande precursora desse sistema, implantou na capital pernambucana o modelo de transporte que, anos mais tarde, foi copiado pelas demais empresas operadoras e que é sinônimo de sucesso até hoje. As empresas Transcol e a atual MobiBrasil (ex-Rodoviária Metropolitana), mantiveram o serviço até meados dos anos 2000. A Viação Mirim manteve durante muito tempo micro-ônibus servindo a linha municipal 405 - Jaboatão/Piedade. Nos últimos anos, outras duas empresas que fizeram a adesão do modelo opcional foram a São Judas Tadeu e a Vera Cruz, que dispõe de ônibus opcionais na linha 214 - UR-10 (Ibura). A alternativa de transporte foi uma solicitação da própria comunidade do Ibura ao Grande Recife Consórcio de Transporte.

Ao contrário do transporte convencional de passageiros, administrado pelo Grande Recife Consórcio de Transporte juntamente com cada empresa operadora, o opcional é gerenciado pelo estado. As linhas que operam o transporte especial no Grande Recife são: 072 - (Candeias Opcional), 042 - (Aeroporto Opcional), a 195 - Porto de Galinhas/Recife, a 053 - RioMar Shopping Opcional, a 518 - Apipucos/RioMar (Opcional) e a 214 - Ibura (opcional). Quem embarca em cada coletivo encontra uma boa opção para fugir do estresse do trânsito.

Caruaru

Empresa Tabosa, de Caruaru, também investe no conforto e comodidade de seus passageiros. Um agradecimento ao blog Executive Bus e ao amigo Rodrigo Fonseca por postarem a foto.
Não é só a capital pernambucana que conta com o sistema opcional. Cidades do interior do estado, como caruaru, por exemplo, também investem nesse tipo de serviço. A empresa Tabosa, tradicional companhia de transportes da Capital do Forró, oferece em seus ônibus alguns "mimos" aos passageiros, como cortinas nas janelas para proteger dos raios solares e TV nos coletivos para levar informação e entretenimento aos usuários. A Tabosa, empresa que fincou sua bandeira na cidade caruaruense, sempre investe na qualidade do serviço de transporte.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Terminal Integrado de passageiros do Recife - TIP - é ponto de encontro de busólogos


Localizado no bairro do Curado, em Jaboatão dos Guararapes, a 20 km do Centro da capital pernambucana, o Terminal Rodoviário de Passageiros do Recife é, há muitos anos, ponto de encontro de busólogos locais e de outros estados, tanto para fotografar ônibus, quanto para viajar ou recepcionar busólogos de outras cidades do país. Em 2013, o governo do estado inaugurou um terminal de ônibus urbanos no TIP, ao lado do terminal de ônibus rodoviários, integrando assim, as linhas de transporte intermunicipais e interestaduais às linhas urbanas de curto percurso, além de interligá-las também ao metrô.

O Terminal Rodoviário do Recife é especial para os fãs de ônibus por vários motivos. Um deles é que o local é próximo de várias garagens de ônibus, pois ali se localizam as empresas Progresso, Borborema, Expresso 1002 e Real Alagoas, além de contar com um ponto de apoio da antiga Jotude, que hoje recebe ônibus de outra empresa. Como rota de ligação com as BR`s 408 e 232, o lugar reúne diversos pontos estratégicos para fotografar os ônibus. Fica a critério de cada integrante escolher a melhor localização e o ângulo ideal para clicar.

Em 2013, durante a Copa das Confederações, a área no entorno do TIP recebeu um verdadeiro aparato de segurança, que contava com dezenas de PMs e guardas municipais que trabalhavam para oferecer mais segurança aos torcedores que se dirigiam para assistir as partidas de futebol. Na ocasião, uma grande estrutura foi montada para disciplinar o trânsito e acomodar veículos de torcedores que vinham de carro. Um esquema especial de ônibus tinha sido implantado pelo GRCT, e muitos busólogos não perderam a oportunidade de fotografar durante esse período.

Inaugurado em 1986, o TIP foi projetado para ser um dos maiores e mais modernos terminais rodoviários do Nordeste. Diversas empresas de ônibus utilizam esse terminal para ligar municípios do interior do estado de Pernambuco e cidades de outros estados brasileiros à capital pernambucana. E quem chega ao TIP encontra muitas opções de linhas de ônibus e metrô para se dirigir a diversos pontos da Região Metropolitana do Recife, e tudo isso contando com a vantagem de pagar apenas uma tarifa, dentro dos limites do Sistema Estrutural Integrado.

sábado, 11 de junho de 2016

Caio Vitória: um ônibus que fez história no Brasil e que marcou gerações


Primeiro Caio Vitória ainda na montadora

A década de 1990 foi rica em modelos e tipos de ônibus produzidos no Brasil. Grandes montadoras como Marcopolo, Busscar e Caio se consolidaram no país e se destacaram pela produção em ritmo frenético de ônibus que se tornaram clássicos de uma época. Grandes famílias de ônibus – como o Torino e o Ciferal, por exemplo, ganharam a confiança dos usuários e marcaram presença nas garagens de ônibus. Com o Caio Vitória não foi diferente. O ônibus atravessou gerações e se adaptou às diversas configurações e versões aplicadas ao longo de pouco mais de uma década presente na linha de produção da fábrica.


Caio Vitória na fábrica em 1993
Projetado pela primeira vez em 1987 e lançado no ano seguinte, o modelo de ônibus urbano Caio Vitória atravessou diversas conjunturas políticas, econômicas e sociais do Brasil. Momentos difíceis no país como a inflação, a estabilização monetária e a expansão da indústria automobilística, que já na década de 1990 esbarrava nos grandes congestionamentos dos principais centros urbanos. Ao brasileiro e usuários do transporte coletivo, restou buscar outras opções de transporte, inclusive os que utilizam energia limpa, como o metrô movido a eletricidade e a bicicleta, por exemplo. 


Sem dúvida, o Vitória deixou saudades. Hoje em dia, sua presença nas ruas não é tão evidente como era a 15, 20 anos atrás, quando o veículo era sinônimo de perfeição e qualidade. No Recife, praticamente  todas as empresas possuíam o Caio Vitória, que era referência em transporte de passageiros e se destacava até mesmo do modelo mais próximo de sua geração: o Caio Alpha. Mantendo um bom nível de vendas, o Vitória fechou o ano de 1995 com bons índices de aprovação entre os usuários. Nas ruas, algumas características chamavam a atenção e tornaram este tipo de ônibus especial: a suspensão elevada, a tarja preta nos faróis traseiros (presente em alguns modelos) e o ronco do motor que ecoava com intensidade.

Caio Vitória com porta central e motorização traseira. Modelo na foto é encarroçado sobre chassi Volvo.

Nesta foto abaixo, registrada em 1994 e noticiada pelos jornais na época, observamos  a greve dos funcionários de uma empresa de ônibus do Recife por reivindicações da categoria. Vemos também que a principal “estrela” da foto é um ônibus Caio Vitória modelo Scania L-113 CL, de motorização traseira; este busão possuía um ronco de motor incomparável e confere certa nostalgia ao transporte recifense da década de 1990. A imagem, ao que parece, foi fotografada em frente à garagem da empresa e, com certeza, ficará na lembrança de muita gente que vivenciou o período. Ao longo de sua história, o ônibus se destacou por seu design robusto e diferenciado, sem perder suas principais características originais de fábrica, nas várias versões do modelo.


Nesta foto histórica registrada em 1994, durante a greve da Borborema, observamos na imagem um Caio Vitória de motorização traseira.
Mas o Vitória conseguiu se destacar entre diversas outras carrocerias de ônibus e acabou entrando para a história. Afinal, nossos pais e nossos avós devem ter utilizado este ônibus que, com seu design, deixou sua marca registrada e chamou a atenção de diversos frotistas e empresários de transporte do Brasil. Com o fim de sua produção, cuja última unidade do veículo foi fabricada em 1997, o Vitória consolidou sua marca e deixou um grande legado na história do transporte coletivo de passageiros, ficando conhecido como um ônibus que fez história no Brasil e que marcou gerações. Afinal, quase todos têm uma história para contar sobre o Caio Vitória, desde os seus avós, passando pelos seus pais até o seu irmão mais velho que vivenciou a época, um ônibus em que sua presença se tornou quase obrigatória nas garagens dos empresários de transporte.

Caio Vitória articulado, criado para suprir a grande demanda de usuários


Além do mais, devemos destacar também  o modelo encarroçado  sob o chassi Scania, um item que conferia certa exclusividade  ao veículo. Trata-se do Caio Vitória urbano Scania L-113, lançado em 1991 no Recife. A imprensa destacou na época o evento de lançamento que contou com a presença de figuras importantes do mundo empresarial dos segmentos rodoviário e automobilístico, como dos empresários Luiz Morato, da antiga São Paulo, Paulo Chaves, da atual Caxangá  e Luciano, da empresa Transcol, entre outras personalidades. Na ocasião, a reportagem ainda ressaltou que o então novo ônibus da marca Vitória montado sob o chassi Scania contava  com suspensão a ar nos eixos dianteiro e traseiro, sistema de auto nivelamento e amortecedores que proporcionavam um rodar macio e seguro. Esses e outros itens traziam mais comodidade aos passageiros. Uma verdadeira revolução para o setor de transportes na época.


Fábrica da Caio Norte em Jaboatão/PE, hoje desativada.


E para não deixar passar em branco na história, neste breve resumo que faço  sobre o Caio Vitória, não poderia deixar de falar sobre uma das unidades industriais responsáveis pela fabricação desse tipo de ônibus, instalada durante muitos anos no município de Jaboatão dos Guararapes, a 19km do Recife e que produziu muitos  veículos do modelo em larga escala, possibilitando uma maior adesão dos empresários. Atualmente desativada, a fábrica contribuiu  significativamente para a construção da história dos transportes. Se adaptou às transformações da indústria de chassis e motores. Deixou um grande legado. Popularizou no Nordeste um produto idealizado no Sul do país. Expandiu fronteiras e hoje remete apenas às lembranças de um passado rico e nostálgico.